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quinta-feira, 29 de setembro de 2011

O pouco serve hoje, o muito amanhã não basta

Discurso de Joaquim Nabuco critica a omissão do Império diante da questão da escravidão


Joaquim Nabuco foi um dos mais brilhantes oradores políticos da história brasileira. Possuidor de um completo domínio da língua, culto e erudito, agregava a estas qualidades um dom especial para transmiti-las pela palavra e comunicá-las pelo discurso. Há, pois, inúmeros discursos de Nabuco que merecem ser relembrados, sob os mais diferentes assuntos. Notáveis são, porém, seus discursos abolicionistas.

O trecho do discurso transcrito a seguir foi pronunciado em 1870, comentando o discurso da Coroa (discurso de início de sessão legislativa, pronunciado pelo Chefe do Governo Imperial). Nele, Nabuco critica a mensagem da Coroa, por omitir-se diante da questão da escravidão, mas, não se limita a esta condenação.

 Para ele, a omissão trai uma deficiência política do governo e revela uma postura de irresolução, hesitação, e de evitar o enfrentamento dos graves problemas do presente, jogando-os para um futuro vago e indeterminado.

Com eloquência, elegância e contundência, Nabuco condena esta postura política de procrastinação, que se aplicava à questão da escravidão, mas se aplica por igual a qualquer governo que adote esta atitude de timidez e escapismo diante dos seus problemas maiores. A seleção deste texto deve-se ao fato de, nele, Nabuco abordar uma questão permanente da política e do governo: a capacidade de decidir no momento oportuno, ou, inversamente, os riscos de deixar passar a oportunidade, para enfrentar um problema que o adiamento somente vai agravar.

Como tal, é uma questão perene da política. No texto, o tema é a escravidão, mas aplica-se também a qualquer outra matéria, cuja gravidade leva alguns governantes à timidez decisória e a tentativa de ignorá-lo, na vã esperança de que o futuro o resolva. Peça clássica de oratória, o discurso de Nabuco é também uma lição de sabedoria política, referente à arte de governar.

O discurso

"Sr. Presidente, eu deploro que ainda esta vez não figure no discurso da Coroa o elemento servil, apesar da manifestação popular, a qual, como uma torrente, arrebata tudo, até arrebata os delegados do Governo Imperial, porque alguns deles, homens práticos e profundos, sentem a necessidade de resolver alguma coisa.


O conceito geral, Sr. Presidente, é que esmerilhou-se esta omissão como uma prova para desmentir o Poder Pessoal (do Imperador). Mas caístes em uma grande incoerência; a recomendação, sem determinação de meios, faria menos mal à causa da escravidão do que a irresolução com que vos tendes havido: resististes ao grande pensamento da Coroa, manifestado ao mundo inteiro, mas traístes a vossa causa, a causa da escravidão.

Edinho Trajano, com Ferraz.


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