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segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Educação fiscal exige uma postura diferenciada dos pais

Em entrevista ao O POVO, o administrador e consultor Gustavo Cerbasi fala sobre o comportamento financeiro dos brasileiros. Para ele, a geração atual de pais e professores tem dificuldade para falar sobre finanças

Depois do período crítico de incertezas econômicas com a hiperinflação, pesquisadores dizem que os adultos de hoje são mais descrentes com a “coisa pública” e as relações com o dinheiro e os impostos. Por isso, a atual geração de pais e professores têm dificuldade para tratar sobre educação fiscal e financeira com filhos e alunos. O mestre em administração e consultor, Gustavo Cerbasi, compartilha dessa ideia. Ele concedeu entrevista ao O POVO sobre o comportamento financeiro dos brasileiros.

Para falar às crianças e adolescentes sobre o assunto, Cebasi publicou um livro intitulado Filhos Inteligentes Enriquecem Sozinhos, publicado em 2006 pela Editora Gente. “Muitos pais preferem lê-lo em companhia dos filhos, para discutirem juntos estratégias de uso consciente do dinheiro”, diz.
 
O POVO - É realmente importante informar e educar as crianças no aspecto fiscal e financeiro? Quais são os reflexos disso no futuro?
Gustavo Cerbasi - Considero fundamental, pois trata-se de um assunto que leva essas crianças e adolescentes a adotarem uma postura mais consciente nas diversas situações de uso do dinheiro: consumo, crédito, tributos e investimentos. Como resultado, essa postura consciente deve resultar em um número menor de erros financeiros, como excesso de pagamento de juros e escolha de investimentos pouco eficientes, o que deve resultar em maiores possibilidades de consumo para esses jovens. Quem ganha não é apenas aquele que tem a vida financeira equilibrada, mas a sociedade como um todo, que vê suas riquezas circulando mais e pode contar com redução da carga tributária quando todos cumprem suas obrigações fiscais.
O POVO - Qual a idade mais indicada para ter início um processo de educação fiscal e financeira?
Gustavo Cerbasi - A educação financeira começa no ventre. Famílias disciplinadas, que têm uma rotina para alimentação, banho e sono, terão filhos mais disciplinados. Esse é o primeiro passo. Além disso, é importante comunicar aos filhos ideias como planejamento, restrição de recursos, seletividade e valor das coisas. Essa segunda etapa começa a ser praticada a partir dos 2 ou 3 anos de idade. Já o processo de educação fiscal exige uma postura cidadã dos pais, que devem dar o exemplo através de práticas que, mais do que praticadas, sejam teatralmente demonstradas aos filhos. Isso vai além de simplesmente pagar impostos e exigir nota; tem a ver também com o respeito aos bens públicos e a vigilância cidadã sobre a atuação do estado.
O POVO - O que o termo “infância cidadã” representa pra você nesse aspecto de educação fiscal e financeira?
Gustavo Cerbasi - A infância cidadã está relacionada ao cultivo de uma relação de respeito e contribuição com o coletivo, respeitando as regras de conduta em sociedade.
O POVO - Os pais brasileiros, em geral, estão preparados para falar sobre cidadania?
Gustavo Cerbasi - De forma alguma. A atual geração de pais deixou de ter o ensino obrigatório da cidadania nas escolas, que no governo militar era suprido pela disciplina de Educação Moral e Cívica. Também cresceu em um ambiente de grande desrespeito de políticos, gestores e funcionários públicos, cuja atitude prepotente fez com que a população perdesse qualquer resquício de admiração pelo que é público. Quando um servidor público é protegido pela aura de poder que lhe é conferida, perde a obrigação de prestar um bom serviço. Nossa sociedade é egoísta e individualista, formada na base do “salve-se quem puder”. É preciso muita boa vontade para ensinar os filhos a respeitarem sem que sejam respeitados.

O POVO - As escolas estão preparadas para falar sobre o assunto? Por que?
Gustavo Cerbasi - Não estão porque os professores são adultos que, na infância, não foram educados para isso. A escola tem consciência da importância de tratar o tema, mas faltam ferramentas didáticas para isso.
O POVO - O Estado, como instituição, faz seu papel de formar cidadãos conscientes da importância do imposto?
Gustavo Cerbasi - Não. A atitude desigual, de manter uma máquina eficiente na arrecadação e extremamente ineficiente no emprego dos recursos faz com que as pessoas não valorizem o imposto que pagam. No Estado de São Paulo, algumas rodovias chegam a cobrar mais de R$ 20 por uma única passagem em cabine de pedágio, e os usuários pagam sem indignação porque recebem um serviço condizente com essa tarifa – que é alta para nosso padrão de renda.
O POVO - As pessoas conhecem os impostos pelos quais pagam?
Não conhecem porque, além de numerosos, complexos e de difícil entendimento de sua existência, mudam com frequência. Seria muito mais fácil entender, fiscalizar e cumprir as obrigações fiscais se nossos impostos fossem aglutinados em um único impostos sobre valor agregado, como funciona nas economias mais desenvolvidas.

O POVO - Crianças e adolescentes com boa orientação financeira e fiscal crescem cidadãos mais conscientes para organizar melhor suas contas e saber cobrar por seus direitos?
 
Sem dúvida. O desconhecimento faz com que as pessoas percam a capacidade de comparar, avaliar e criticar. Se, bem educados, os cidadãos cobrassem somente aquilo que lhes é de direito, teríamos um Estado funcionando melhor, com arrecadação também maior e menos desigual, e com um nível de bem-estar distribuído mais uniformemente pela população de todo o território. Nesse quesito, estamos ainda no século XIX.


ENTENDA A NOTÍCIA

Resquícios da ditadura militar e do período de hiperinflação ainda impactam na formação dos jovens. Famílias e escolas apresentam dificuldades para falar sobre orçamento, cidadania e pagamento de impostos.

Leia amanhã
Resultados de pesquisa sobre o programa de educação fiscal em escolas públicas.

Edinho Trajano, Com JH.

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