Sim - Somos contra a violência. A violência incomoda, gera desconforto. No entanto, é comum escutarmos que, em relação à educação dos filhos, justifica-se o uso de castigo físico ou de humilhações. O castigo físico contra os filhos é uma forma de violência legitimada, socialmente aceita. A ideia de ela se dá no âmbito privado faz com que a sociedade se omita em relação à violência que cotidianamente milhares de crianças sofrem, de forma solitária, e que, provavelmente, será extravasada em outro espaço, muitas vezes é a escola. Pesquisa Datafolha, realizada em 2010, aponta que 75% das crianças e adolescentes no Brasil sofrem violência praticada por pais e responsáveis.
Educar é um desafio, por isso Paulo Freire nos diz que não educamos o outro, mas que nos educamos uns aos outros. Educar é sentir-se responsável em transmitir conhecimentos, valores. Mas, também, é abertura para a possibilidade de aprender, assumir erros, pedir desculpas.
Por isso, o projeto de lei que dispõe sobre a alteração das Leis 8.069/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente) e 10.406/02 (Novo Código Civil), “estabelecendo o direito da criança e do adolescente a não serem submetidos a qualquer forma de punição corporal, mediante a adoção de castigos moderados ou imoderados, sob a alegação de quaisquer propósitos, ainda que pedagógicos”, é importante, pois abre a possibilidade de a sociedade discutir o tema, descortina o costume tão naturalizado de achar que é justificável aplicar pancada, palmada, puxão de orelha.
Não é simples a tarefa de educar os filhos sobre a ótica de uma cultura de não-violência, na qual a escuta e a capacidade de diálogo estejam estabelecidas, mas é necessária.
A mentalidade que acredita que castigo físico educa justificou o uso da palmatória na sala de aula. Hoje a sociedade não aceita um procedimento dessa natureza como parte do processo pedagógico. Isso demonstra que conceitos são construídos socialmente e, portanto, podem mudar.
"O castigo físico contra os filhos é uma forma de violência legitimada"
Margarida Marques
Membro da coordenação do Cedeca e do Conselho de Leitores do O POVO
Não - A palmada é um dos recursos que os pais têm com seus filhos. Não estamos falando sobre espancamentos, estamos falando sobre “aquele tapinha” que muitas crianças precisam de vez em quando. Os pais devem conversar com seus filhos, tentar fazer com que eles reflitam, mas a palmada muitas vezes é necessária sim. Por exemplo, se você for pego ao volante usando o celular, você não vai preso. O seu castigo é leve. Mas se você for pego alcoolizado o seu castigo é pior. A mesma coisa com o filho: um suco derramado no sofá é só um suco, mas xingar os pais ou gritar com eles é infração grave. Afinal, um filho que bate nos seus pais, se não for contido, fará o que de pior? Matar os pais! É o que sobra. Parece duro, mas é a realidade.
A palmada apenas, em si, não pode trazer traumas para as crianças. A surra, sim. A violência moral também. Xingar a criança, ter reações abruptas, dizer palavras pesadas como “por que eu tive você?” ferem muito mais do que uma palmada. Ela dói, claro, mas a dor no bumbum passa, dura apenas segundos. A dor devido uma agressão verbal fica na alma.
Os pais não devem descontar nas crianças o estresse que eles vivem. A palmada dada com fúria, é dada em descontrole. Os pais devem ter equilíbrio ao aplicá-la. E qualquer pessoa em equilíbrio mental sabe discernir entre uma palmada e um espancamento. Mas, se a palmada está sendo equiparada a um espancamento, então, um copo de cerveja deveria ser equiparado ao alcoolismo.
É necessário ter em mente que crianças são crianças. Elas aprontam, questionam. Hoje em dia os pais não se colocam com o poder que deveriam e passaram tal poder aos filhos. Em um mundo cheio de informação, o índice de usuários de drogas sobe. Qual o motivo? Vejamos: “Se papai e mamãe não me deram limites, então, ninguém dá”. Os pais estão criando monstros e ninguém está fazendo nada. Querem falar bonito ao dizer que o Brasil tem/terá uma Lei semelhante a da Suécia, mas na prática a criança brasileira está longe de deixar de ser violentada. Basta frequentar as ruas durante a noite.
"A palmada apenas, em si, não pode trazer traumas para as crianças"
Rita Bizerra, com Denise Dias
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