Vício em crack e outras drogas faz mulheres buscarem laqueadura.
O avanço do crack e outras drogas entre grávidas tem feito hospitais brasileiros realizarem laqueaduras a pedido das mulheres. A Folha ouviu cinco maternidades que adotam a prática --duas no interior de São Paulo, duas na capital e uma em Porto Alegre (RS).Por lei, a laqueadura só pode ser feita em mulheres com mais de 25 anos ou com mais de dois filhos. Ela deve expressar por escrito a vontade, e é proibida a indução à prática.
Maternidades ouvidas pela Folha, porém, confirmam que a prática existe e que é cada vez mais comum nos partos ver mães que estão sob o vício do crack. A gravidez, muitas vezes, é resultado de abuso sofrido na rua, enquanto a mulher usava a droga.
Na capital, a maternidade estadual Leonor Mendes de Barros faz em média por ano 6.500 partos. Neste ano, 39 grávidas eram usuárias.
O hospital não tem levantamento das laqueaduras só em viciadas, mas a operação é feita uma ou duas vezes por mês em casos especiais --viciadas com algum distúrbio psiquiátrico ou soropositivas.
Apesar de depender da vontade da mulher, a pressão da família pesa na decisão.
"Tenho impressão de que ela é convencida. Geralmente, vem a mãe dela e nos diz "ela engravidou de novo e não se cuida, eu que cuido dos filhos dela", disse a supervisora do Planejamento Familiar Cristina Helena Rama.
Próximo à cracolândia, a Santa Casa de SP atende por mês de duas a três grávidas usuárias de crack, em geral jovens de 20 a 30 anos, andarilhas, sem pré-natal, levadas pelo resgate em trabalho de parto e sob efeito da droga.
Segundo a médica Sonia Tamanaha, do setor de planejamento familiar, são mulheres que sequer conseguem informar dados pessoais.
A Santa Casa não sabe estimar quantas delas passaram pela laqueadura.
Em Araraquara (273 km de SP), a Santa Casa teve três casos de bebês que nasceram neste ano e em 2010 com crise de abstinência de cocaína, devido ao vício das mães. Neste ano, foram cinco viciadas em crack.
Diretor da maternidade da Santa Casa, Leonardo Alberto Cunha diz não ter dados das esterilizações, mas que ele já fez duas laqueaduras em dependentes químicas.
"As famílias nos procuram. Não é rotina, mas nesses casos eu executo, porque são casos de alta dependência. A mulher já tem dois, três bebês, um de cada pai." O procedimento ocorre, diz, com a avaliação de outros médicos.
Há casos também em Porto Alegre, no Grupo Hospitalar Conceição. Neste ano, em uma das maternidades do grupo, três de 111 grávidas viciadas passaram por laqueadura. Segundo o diretor-técnico Neio Lúcio Fraga Pereira, há consultório de rua que aborda pessoas com crack --entre elas, há grávidas.
Na Mater, em Ribeirão Preto (313 km de SP), um estudo mostrou que 23% das grávidas consumiam álcool. De janeiro a novembro deste ano, foram 357 laqueaduras --não há dados de usuárias.
REVERSÃO
Segundo o Ministério da Saúde, a laqueadura tubária é irreversível em 95% dos casos. A escolha tem partido das mulheres, convencidas pela família ou após orientação médica. Em 2010, foram 38.752 laqueaduras via SUS, número em queda desde 2007.
Edinho Trajano.
Folha
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