O PT no Nordeste
Tornou-se um desafio para o PT nordestino a consolidação do partido na região sob as bênçãos da presidente Dilma Rousseff. A “Carta do Recife”, resumindo conclusões do encontro realizado entre dirigentes e lideranças no hotel Jangadeiro, incluindo-se o presidente nacional Rui Falcão, defende o protagonismo do PT nordestino, com reeleição de prefeitos em algumas capitais, eleição de candidatos em outras que não estão ao alcance do seu domínio e “atenção especial” para redutos como João Pessoa. Aqui, as chances parecem remotas, diante de competição acirrada entre outras siglas.
Mas não só por isso. O Partido dos Trabalhador
es até que possui quadros de nível a oferecer, como o deputado estadual Luciano Cartaxo, que foi testado no papel de vice-governador no mandato-tampão do peemedebista José Maranhão e surpreendeu aos menos avisados, pela interlocução que abriu com movimentos sociais, a despeito da férrea centralização que JM empalmou, como é do seu estilo. No fim da gestão maranhista, Cartaxo ficou isolado junto a setores do PMDB e perdeu a confiança de alas radicais do PT. Arregaçou as mangas e se elegeu à Assembleia com seus méritos.
É preciso dizer, a bem da verdade, que havia uma desconfiança contra Cartaxo motivada pelo fato dele ter sido líder do então prefeito Ricardo Coutinho no legislativo municipal pessoense. Mas Luciano seguiu o enredo que fora traçado internamente. Posteriormente, entrou como vice de Maranhão em 2006 por decisão da maioria da cúpula petista. Hoje, como deputado, é um dos mais atuantes na oposição a Coutinho.
As idiossincrasias
Enquanto não superar idiossincrasias e promover uma depuração que torne a unidade um dogma e não uma peça de marketing, o Partido dos Trabalhadores não se afirmará na sua plenitude. A agremiação chegou ao poder maior, com Lula ocupando a presidência da República por duas vezes. Estagiou por governos estaduais em regiões mais evoluídas e em centros médios. Contudo, não alcançou a maturidade.
Na Paraíba, peleja para construir identidade própria sem avançar, porque acaba vindo a reboque ora de Maranhão, ora de Ricardo. Abriga dissidentes notórios como Júlio Rafael, Walter Aguiar, Luiz Couto. A constatação que salta aos olhos é a de que o partido afrouxou o limite da fidelidade. Nesse ponto, foi de um extremo a outro. Atuou de forma ortodoxa em fases distintas, depois partiu para uma liberalidade geral.
Coerência mínima
Não é o caso de sugerir que o partido deva ser autoritário, inflexível, arauto de imposição de camisa de força para filiados com ou sem mandato. O mínimo de coerência se impõe, todavia, para que o PT não seja tido como irreconhecível. Nesse ponto, é de convir que o presidente Rodrigo Soares sofre contestação cerrada.
A postura de combate a Soares é inconcebível com a democracia interna que a legenda jactava-se de exercer de forma diferenciada, tomando por base o respeito a deliberações de cúpula extraídas de discussões intermináveis, uma prática que não foi abolida. Destituir Rodrigo do comando antes de concluído o mandato seria ato de força, mas sua autoridade deve ser respeitada antes que a indisciplina cresça.
Campos, o trator
O PT no Nordeste está, de certa forma, tolhido pela ascensão gradual que vem tendo o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, a estrela maior do Partido Socialista. Teoricamente interessado em pavimentar o terreno para uma candidatura à presidência da República em 2014, Eduardo sustenta uma imagem de “trator”, dedicado, pacientemente, à expansão do PSB e tonificação de seus quadros.
A candidatura a presidente é costurada com habilidade, até porque Eduardo é aliado de Dilma, que tem direito à reeleição. Voltando à Paraíba: a dimensão da sobrevivência do PT só pode ser avaliada com voos mais altos. A disputa local é importante em 2012, até para testar os espaços disponíveis. Mas, fica no ar a pergunta: qual é mesmo a dificuldade do PT lançar candidato ao governo da Paraíba?
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